28/08/2015 às 18h47min - Atualizada em 28/08/2015 às 18h47min

Mujica: temos que lutar para melhorar a democracia, não para sepultá-la

Aos 80 anos de idade, o político uruguaio foi intensamente festejado pela plateia

CORREIO DO BRASIL

O ex-presidente do Uruguai e atual senador, José Pepe Mujica, defendeu o aperfeiçoamento da democracia e repudiou golpes de Estado no continente. Ele foi aclamado por cerca de  5 mil pessoas na Concha Acústica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e cerca de 4 mil acompanharam na transmissão da Mídia Ninja., durante palestra , na noite de quinta-feira.

Aos 80 anos de idade, o político uruguaio foi intensamente festejado pela plateia, majoritariamente formada por jovens, que ouviam entre momentos de completo silêncio ou de palmas entusiasmadas ao discurso de Mujica, marcadamente contra o materialismo capitalista e a favor da solidariedade humana. Ao ouvir dos presentes gritos de “não vai ter golpe”, o político uruguaio fez uma acalorada defesa da democracia.

– Tenho dificuldade para entender, no momento, o que se passa aqui, porque não me corresponde. Porém, se tenho que ser claro, aventura com o uniforme dos milicos, por favor! Golpe de Estado, por favor! Este filme já vimos muitas vezes na América Latina. Esta democracia não é perfeita, porque nós não somos perfeitos. Mas temos que defendê-la para melhorá-la, não para sepultá-la – disse Mujica, e, mais uma vez, ouviu a plateia gritar: “Não vai ter golpe”.

A palestra, inicialmente programada para ocorrer no Teatro da Uerj, foi feita no anfiteatro, ao ar livre, com a colocação de telões em outros espaços do campi, para comportar todo o público. Mujica ressaltou a importância de os jovens seguirem com a luta política e defendeu a necessidade de serem solidários uns com os outros.

– Meus queridos, ninguém é melhor do que ninguém. Tenho que agradecer a sua juventude pelas recordações de tantos e tantos estudantes que foram caindo pelos caminhos de nossa América Latina. Vocês têm que seguir levantando a bandeira. Na vida temos que defender a liberdade. E ela não se vende, se conquista. Fazendo algo pelos outros. Isto se chama solidariedade. E sem solidariedade não há civilização.

Um dos assuntos abordados pelo público, que pôde fazer perguntas ao ex-presidente, foi a questão da liberação do consumo de maconha no Uruguai, com base em lei aprovada no seu governo. Mujica fez questão de frisar que nenhum vício é bom, “exceto o amor”, e explicou porque decidiu tomar tal atitude em seu país.

Narcotráfico

Mujica defendeu, que a descriminalização das drogas é o melhor combate ao narcotráfico. O tema está em pauta no Supremo Tribunal Federal (STF).

– Iniciamos essa experiência no Uruguai e não sabemos no que vai dar, mas o que estava sendo feito não dava resultados. O narcotráfico é pior do que a droga. O que queremos é regularizar o consumo, assegurar que o consumidor possa comprar uma dose sem ter que recorrer ao narcotráfico – disse o senador.

Durante seu mandato, de 2010 a 2015, o Uruguai aprovou a descriminalização da maconha, o casamento homoafetivo e a legalização do aborto.

Mujica não quis comentar a crise política no Brasil, mas afirmou que o país “tem força suficiente para superar as dificuldades”. “O problema é que vocês só veem derrotismo e acham que nada serve. Se teve gente que se equivocou, deve ser punida, mas vocês têm que seguir em frente.”

A simplicidade do ex-presidente, que vive sem luxos, é uma das suas características. Para ele, os políticos devem viver como a maioria do povo e não como uma minoria privilegiada. “Se você se acostuma a comer na mesa dos ricos, pensará que é rico. Não há homem grande, há causa grande”, completou Mujica.

O ex-presidente uruguaio participou de um encontro com estudantes na Universidade Estadual do Rio de Janeiro.


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