14/10/2015 às 15h41min - Atualizada em 14/10/2015 às 15h41min

Varejo pode ter pior ano desde 2003

Em relação a agosto de 2014, comércio varejista teve queda de 6,9%, segundo o IBGE

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Vendas no varejo brasileiro caem 0,9% em agosto / REUTERS/ Nacho Doce Vendas no varejo brasileiro caem 0,9% em agosto REUTERS/ Nacho Doce

As vendas varejistas recuaram mais que o esperado em agosto, deixando o setor a caminho do pior desempenho anual em 12 anos e contaminando as expectativas para 2016, em um aprofundamento do cenário de recessão econômica no país com inflação alta e desemprego subindo.

A queda de 0,9% em agosto sobre o mês anterior foi a sétima mês seguida, tendo conseguido variação positiva somente em janeiro, de 0,1%. Com isso, elas acumulam nos primeiros oito meses deste ano perdas de 3%, apagando o ganho de 2,2% em 2014 como um todo e a caminho de terminar o ano com contração pela primeira vez desde 2003 (-3,7%).

Em relação a agosto de 2014, as vendas recuaram 6,9%, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística nesta quarta-feira.

Os dois resultados foram bem piores do que a expectativa em pesquisa da Reuters junto a especialistas, de recuo de 0,55% na base mensal e de 5,6% sobre um ano antes.

"O viés é de baixa para a projeção do varejo em 2015 e contamina 2016. Com o cenário atual de renda, de crédito e político, não tem nada que possa reverter o cenário do consumo das famílias", afirmou o economista da Tendências Consultoria Rodrigo Biaggi, que projeta queda de 4,1% para o varejo este ano e de 1,5% no próximo.

A confiança do consumidor brasileiro continua em níveis históricos baixos, como reflexo da economia em recessão, deterioração do mercado de trabalho e em meio à forte crise política que assola o país. "O cenário de curto prazo para o consumo privado e vendas no varejo continua negativo desde à signifivativa desaceleração do fluxo de crédito, altos níveis de endividamento, queda da criação do emprego e do crescimento de salários, e taxas de juros mais altas", destacou o diretor de pesquisa econômica do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos.

As projeções para a economia no próximo ano vêm se deteriorando constantemente, com economistas consultados na pesquisa Focus do Banco Central projetando contração de 1,2% do Produto Interno Bruto, mostrando a dificuldade de recuperação ante a retração de 2,97% prevista para este ano.

Livros e móveis

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística apontou que seis das oito atividades pesquisadas no varejo restrito tiveram queda em agosto na comparação mensal no volume de vendas, sendo a maior para Livros, jornais, revistas e papelaria, de 2,6%. Já as vendas de Móveis e eletrodomésticas perderam 2%, enquanto Combustíveis e lubrificantes tiveram queda de 1,3% sobre julho.

Por outro lado, hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, setor com maior peso na estrutura do comércio varejista, reduziu as perdas para 0,1% em agosto na base mensal, contra recuo de 1,5% em julho.

Ainda assim o impacto negativo do setor sobre o resultado de agosto foi grande, segundo a economista do Instituto Brasileiro de Geografia e Eestatística Isabella Nunes, em decorrência da inflação elevada vinda do dólar mais alto, que somente em agosto subiu 5,91% sobre o real.

"A grande diferença é o enfraquecimento do mercado de trabalho e a inflação mais alta. Mesmo os [setores] que ainda crescem no ano vêm perdendo força por conta do menor poder de compra das pessoas", destacou Isabella.

Já o varejo ampliado, que inclui automóveis e materiais de construção, registrou queda de 2% em agosto sobre o mês anterior, pressionado principalmente pelo recuo de 5,2% em Veículos e motos, partes e peças.


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