O início do período chuvoso na maior parte do país trará, como acontece todos os anos, um crescimento expressivo na população de mosquitos Aedes aegypti. Naturalmente grave, o problema deverá ser pior neste ano, porque, além da dengue, o inseto transmite a febre chikungunya e o zika vírus -- que se tornou uma questão prioritária para a saúde pública após a confirmação de sua relação com o surto de microcefalia, que atinge principalmente estados do Nordeste, mas está se espalhando.
Confirmado por um teste laboratorial, o elo entre o zika vírus, que começou a circular no Brasil apenas no ano passado, e a microcefalia -- que tinha 1.248 casos suspeitos registrados até o último dia 28 de novembro -- acendeu o alerta no Ministério da Saúde.
O órgão busca maneiras de intensificar o combate ao Aedes aegypti, mas não divulgou mudanças na política até agora.
“O zika vírus pegou o Brasil de calças curtas e vai dar trabalho nos meses quentes”, diz o epidemiologista Marcos Obara, da UnB (Universidade de Brasília).
“O que mais falta é ensinar a população a participar efetivamente da luta contra o mosquito, eliminando criadores. Não se investe o suficiente em educação e é isso que precisa mudar”, sugere ele. “Mas precisa de dinheiro e, neste momento de crise que o país enfrenta, é difícil acreditar em aumento do investimento.”
Para o professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Álvaro Eiras, especialista em comportamento do Aedes aegypti, “certamente” haverá epidemia das doenças transmitida pelo mosquito. “Já são 1,5 milhão de casos de dengue no ano. Os métodos de controle do programa nacional são ineficientes, não atingem as metas e a situação piora ano a ano”, critica.
A preocupação é compartilhada pelas Organizações Mundial e Pan-Americana de Saúde, que divulgaram alertas para o monitoramento do zika vírus na América do Sul e no Caribe. Para Eiras, o Brasil parou no tempo no que diz respeito ao combate do mosquito.
“Em 1920, já se jogava fumacê nas ruas e se procurava mosquito na casa das pessoas. É preciso modernizar o monitoramento”, afirmou.
Um novo boletim epidemiológico sobre a microcefalia deve ser divulgado amanhã pelo ministério.