Responsável por entregar o dinheiro sujo com o qual o doleiro Alberto Yousseff irrigava o esquema criminoso descoberto na Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF), Carlos Alexandre de Souza Rocha apontou o senador Aécio Neves (PSDB-MG) — candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais — como receptador de uma quantia milionária no esquema que beneficiava a empresa UTC Engenharia em obras na Petrobras.
Rocha disse à polícia, na delação premiada com a qual espera reduzir sua pena, que entregou R$ 300 mil, em 2013, a um diretor da UTC Engenharia, no Rio de Janeiro. O pacote estaria destinado ao senador Aécio Neves (PSDB-MG). Rocha, conhecido como Ceará, relata que conheceu Youssef em 2000 e, a partir de 2008, passou a fazer entregas de R$ 150 mil ou R$ 300 mil a vários políticos.
Ele disse que fez em 2013 “umas quatro entregas de dinheiro” a um diretor da UTC chamado Miranda, no Rio. O depoimento foi confirmado na confissão do diretor financeiro da UTC, Walmir Pinheiro Santana. Ele confirmou que o diretor comercial da empreiteira, no Rio, chamava-se Antonio Carlos D’Agosto Miranda e que “guardava e entregava valores em dinheiro a pedido” dele ou de Ricardo Pessoa, dono da UTC.
Rocha disse à PF que, em uma das entregas, entre setembro e outubro daquele ano, que Miranda “estava bastante ansioso” pelos R$ 300 mil. Rocha afirmou ter estranhado a ansiedade de Miranda e indagou o motivo. O diretor teria reclamado que “não aguentava mais” a cobrança e, perguntado quem seria o cobrador, Miranda teria dito ao delator: “Aécio Neves”.
— E o Aécio Neves não é da oposição? — teria retrucado Rocha.
A resposta, segundo o relator, teria sido esclarecedora:
— Aqui a gente dá dinheiro pra todo mundo: situação, oposição, todo mundo.
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Uma cópia do depoimento vazou para o diário conservador paulistano Folha de S. Paulo |
O entregador de propinas prestou o depoimento em 1º de julho e, em 4 de agosto, Santana foi ouvido pela PF. Embora tenha dito que Miranda não teve qualquer “participação no levantamento do dinheiro para formar o caixa dois” da construtora UTC, Santana observou que “pode ter acontecido algum episódio em que o declarante ou Pessoa informaram a Miranda quem seriam os destinatários finais da entrega”.Em dados declarados à Justiça Eleitoral, o comitê da campanha presidencial do então presidenciável tucano, em 2014, recebeu R$ 4,5 milhões da UTC. Rocha disse que estranhou o endereço de entrega do ‘pacote’, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Afinal, “Aécio mora em Minas”, teria dito. Miranda respondeu que o político “tem um apartamento” no Leblon e “vive muito no Rio de Janeiro”. Rocha nega ter presenciado a entrega do dinheiro ao senador, e que ficou “surpreso” com a citação.
Aécio nega tudo
A assessoria do senador tucano considera “absurda e irresponsável” a citação a seu nome, “sem nenhum tipo de comprovação”.
“Trata-se de mais uma falsa denúncia com o claro objetivo de tentar constranger o PSDB, confundir a opinião pública e desviar o foco das investigações”, disse a assessoria, por meio de nota. Ainda segundo os assessores de Aécio, Ricardo Pessoa, dono da UTC, não incluiu Aécio na lista de quem recebeu recursos da empresa no esquema da Petrobras.
“A falsidade da acusação pode ser constatada também pela total ausência de lógica: o senador não exerce influência nas empresas do governo federal com as quais a empresa atuava e não era sequer candidato à época mencionada. O senador não conhece a pessoa mencionada e de todas as eleições de que participou, a única campanha que recebeu doação eleitoral da UTC foi a de 2014, através do Comitê Financeiro do PSDB”, diz a nota.
Procurada, a UTC também negou tudo.
Delação premiada
Mas, não é apenas na Operação Lava Jato que o senador tucano está citado, nominalmente, como destinatário da propina vazada dos cofres públicos. O doleiro Alberto Youssef confirmou, durante seu depoimento na CPI da Petrobras, em meados deste ano, que o senador Aécio Neves recebeu, sim, dinheiro da corrupção que lesou os cofres da empresa estatal Furnas S/A, subsidiária da Eletrobras.
— Eu confirmo (que Aécio recebeu dinheiro de corrupção) por conta do que eu escutava do deputado José Janene, que era meu compadre e eu era operador dele — disse o doleiro.
A declaração de Youssef foi resposta a pergunta do deputado federal Jorge Solla (PT-BA). Solla questionou se houve “dinheiro de Furnas para Aécio” e Youssef diz que confirmava versão passada anteriormente. Paulo Roberto Costa disse que não tem conhecimento do assunto.
Em seguida, o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) defendeu que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) seja investigado por ter sido citado por Alberto Youssef. Pelo Twitter, o petista afirmou que os tucanos da CPI ficaram “perplexos”. “Alberto Youssef acaba de confirmar que Aécio recebeu $$ de Furnas – Aqui na CPI da Petrobras silêncio total de tucanos perplexos”, postou.
Pimenta disse, ainda, que a atuação da oposição é para que só “meia corrupção” seja investigada e criticou os trabalhos da CPI que decidiu por não apurar o pagamento de propina na estatal durante os governos FHC. Segundo um dos delatores, o esquema de corrupção na Petrobrás iniciou em 1997, no primeiro mandato do ex-presidente Fernando Henrique.
— É curioso porque há um esforço por parte de alguns partidos de tratar esse tema como se fôssemos um bando de ingênuos. Se observarmos alguns episódios de maior repercussão do governo FHC, vamos ver que o Alberto Youssef estava lá. Se formos na CPI da Banestado, quem estava lá? O Youssef e o Ricardo Sérgio. Quem é Ricardo Sérgio? O tesoureiro da campanha do José Serra. Agora, na denúncia do Janot aparece o Júlio Camargo juntamente com um cidadão chamado Gregório Marin Preciado. Quem é o Gregório? Primo do Serra, sócio do Serra. Capítulo 8 da Privataria Tucana — apontou Pimenta.
O deputado também reafirmou que as contribuições recebidas pela campanha da presidente Dilma Rousseff foram legais. De acordo com o parlamentar, “ninguém é bobo” para acreditar que a mesma empresa que doava para Dilma fazia porque o dinheiro era “propina”, enquanto as doações para Aécio – muito maiores – eram feitas por “generosidade” e por “amor”.