02/01/2016 às 10h25min - Atualizada em 02/01/2016 às 10h25min

Turquia visa desacredita Rússia por revelar verdade sobre comércio com EI

Na opinião da parte russa, antes de inventar histórias sobre ataques russos contra os civis na Síria a Turquia tem de resolver os seus problemas internos

CORREIO DO BRASIL
A chancelaria russa também afirmou que a política turca de opressão dos curdos levará a um grande número de vítimas

O Ministério das Relações Exteriores russo considera as alegações da Turquia sobre que a aviação russa na Síria alveja infraestruturas civis como uma tentativa de desacreditar Moscou depois de ter revelado informações sobre o envolvimento da Rússia na venda ilegal do petróleo, afirmou a chancelaria russa nesta quinta-feira.

– Nos dias recentes, as autoridades turcas têm divulgado informações falsas sobre alegados ataques aéreos da Força Aeroespacial russa contra alvos civis e os civis na Síria. No contexto da sua propaganda negra Ancara declarou que há um número de vítimas – diz-se no comunicado.

– Consideramos a aspiração de Ancara de realizar uma campanha antirrussa como uma reação óbvia ao fato de que a nossa parte revelou o envolvimento turco nas atividades ilegais no norte da Síria inclusive na contrabanda de petróleo das jazidas que estão sob o controle do EI – destaca-se no comunicado.

A chancelaria russa também afirmou que a política turca de opressão dos curdos levará a um grande número de vítimas entre os civis inclusive mulheres e crianças.

Na opinião da parte russa, antes de inventar histórias sobre ataques russos contra os civis na Síria a Turquia tem de resolver os seus problemas internos e lidar com o assunto de respeito de direitos humanos e liberdade de expressão.

A Rússia lamenta que os aliados ocidentais da Turquia prefiram ficar quietos sobre informações falsas que divulga a Turquia.

– Praticamente ninguém acreditará em insinuações de Ancara inclusive os seus aliados que infelizmente prefiram ficar silencioso por causa da solidariedade da aliança – afirmou o Ministério das Relações Exteriores russo.

Desde 30 de setembro após o pedido do presidente sírio Bashar Assad começou a realizar ataques aéreos localizados contra as instalações do Estado Islâmico e Frente al-Nusra (ambos os grupos terroristas são proibidos na Rússia). Durante o tempo percorrido a Força Aeroespacial russa com a participação dos navios da Frota do mar Cáspio e um submarino da Forta do mar Negro Rostov-na-Donu eliminaram algumas centenas de militantes e milhares de instalações dos terroristas.

Ao mesmo tempo a coalizão realiza ataques contra o EI na Síria, sob a liderança dos EUA, que não têm autorização do governo sírio. A Rússia troca informações sobre missões com a coalizão mas a cooperação mais estreita ainda está em desenvolvimento. O Ocidente acusa a Rússia de bombardear não somente instalações dos terroristas mas também posições da chamada oposição moderada. O Ministério da Defesa russo chama estas declarações infundadas.

Após o incidente do bombardeiro russo Su-24 que foi abatido pelo caça turco F-16 na fronteira entre a Síria e a Turquia (Moscou afirma que o incidente teve lugar em território sírio e Ancara diz o contrário), a Rússia deslocou para a Síria sistemas mais novos S-400 e o cruzador Moskvá e o submarino Rostov-na-Donu atingiram o litoral da República Árabe da Síria.

Ataques russos

A equipe de reportagem da agência russa de notícias Sputnik falou com o vice de um dos cogovernadores da região de Cezire, no Curdistão sírio, Huseyin Azam, de origem árabe, sobre a situação de segurança na região e a sua visão sobre os ataques aéreos realizados pela Rússia.

A área de maioria curda no Norte da Síria é chamada Rojava e consiste de três regiões, Cezire, Kobane e Afrin, que são governadas pelo Partido da União Democrática (PYD, na sigla em curdo). A maior região do Curdistão sírio é Cezire, com a capital na cidade de Qamishli.

Azam informou que a situação no que toca à segurança, defesa e administração melhorou em geral em Cezire, comparada com os períodos anteriores.

– Na nossa região acontecem de vez em quando confrontos entre as unidades das Forças Democráticas da Síria e os militantes do EI. Mas a maior parte de territórios na província de Hasakeh foi liberada de jihadistas. Recentemente, os soldados das Forças Democráticas da Síria repeliram os militantes do EI da área de Hol, em Hasakeh. Neste momento, os confrontos acontecem na área de Seddahi – contou o político.

Segundo Azam, na região vivem em paz os representantes de vários povos – curdos, árabes, assírios. Todos podem obter cargos nos órgãos de poder.

Falando da operação antiterrorista da Força Aeroespacial russa, ele sublinhou o seguinte:

“Nós julgamos que os ataques da aviação russa contra as posições dos militantes do Estado Islâmico têm grande importância na luta contra o terrorismo. A Rússia defende o povo sírio. Esperamos imensamente que no futuro as nossas relações com a Rússia se desenvolvam mais ativamente e que haja mais oportunidades para a cooperação”.

O grupo terrorista EI (proibido na Rússia e reconhecido como terrorista pelo Brasil) autoproclamou-se “califado mundial” em 29 de junho de 2014, tornando-se imediatamente uma ameaça explícita à comunidade internacional e sendo reconhecida como a ameaça principal por vários países e organismos internacionais. Porém, o grupo terrorista tem suas origens ainda em 1999, quando um jihadista da tendência salafita, o jordaniano Abu Musab al-Zarqawi, fundou o grupo Jamaat al-Tawhid wal-Jihad. Depois da invasão norte-americana no Iraque em 2003, esta organização começou a fortalecer-se, até transformar-se, em 2006, no Estado Islâmico do Iraque. A ameaça representada por esta entidade foi reconhecida pelos serviços secretos dos EUA ainda naquela altura, mas reconhecida secretamente, e nada foi feito para contê-la. Como resultado, surgiu em 2013 o Estado Islâmico do Iraque e do Levante, que agora abrange territórios no Iraque e na Síria, mantendo a instabilidade e fomentando conflitos.

Não há uma frente unida de combate contra o Estado Islâmico: contra o grupo lutam forças governamentais da Síria (com apoio da aviação russa) e do Iraque, a coalizão internacional liderada pelos EUA (limitando-se a ataques aéreos), assim como milícias xiitas libanesas e iraquianas. Uma das forças mais eficazes que combatem o EI são as milícias curdas, tanto no Curdistão iraquiano, como no Curdistão sírio.


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