31/08/2017 às 08h42min - Atualizada em 31/08/2017 às 08h42min

Funaro aponta PMDB em delação: Temer era o chefe da quadrilha

Doleiro que lavava dinheiro para o PMDB fecha delação premiada e aponta Michel Temer, em depoimento, como “chefe da quadrilha”.

CORREIO DO BRASIL
Funaro, em sua delação, aponta Temer como chefe da quadrilha que agia na CEF

O doleiro Lúcio Funaro fechou, nesta quarta-feira, as bases para a delação premiada na qual aponta o presidente de facto, Michel Temer, como “chefe da quadrilha” que lesou os cofres públicos ao longo de décadas. Fontes próximas ao processo disseram à reportagem do Correio do Brasil, nesta manhã, que os principais aliados de Michel Temer no PMDB integraram a organização criminosa da qual o empresário fazia parte.

Em seu depoimento, Funaro acrescenta que Temer recebeu recursos ilícitos da Caixa Econômica Federal. O peemedebista dispõe, ainda, de grandes quantias de dinheiro em contas secretas, no exterior, segundo o delator. A denúncia de Funaro soma-se à dos executivos do Grupo JBS, que contém afirmativas similares.

Nesta tarde, o gabinete do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), encaminhou a denúncia. Cabe ao relator da Lava Jato no STF homologar, ou não, o acordo de Funaro com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Somente depois que os termos forem homologados, o Ministério Público poderá usar as informações prestadas pelo operador para realizar investigações.

Manobras

Funaro, em sua delação, esmiuçou seus atos como operador financeiro do PMDB da Câmara dos Deputados. Ele sustentava, com recursos públicos desviados, o grupo político liderado por Michel Temer. Procurador-geral da República, Rodrigo Janot adiantou que pretende usar a delação de Funaro em uma segunda denúncia contra Temer. Dessa vez, o peemedebista que já foi acusado de corrupção passiva pelo procurador, responderá por formação de quadrilha e obstrução de Justiça.

Temer conseguiu se livrar da primeira denúncia, na Câmara. Por meio de manobras financeiras e políticas, a investigação foi adiada para quando ele deixar o Palácio do Planalto. Nesta segunda investida da PGR, suspeita-se que um novo esquema para blindar o peemedebista está em curso no Parlamento

A delação de Funaro inclui, ainda, informações sobre os peemedebistas Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil, e Wellington Moreira Franco chefe da Secretaria-Geral; além dos ex-assessores Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves. O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba, também constaria na delação, segundo a fonte.

Força-tarefa

Analistas jurídicos ouvidos pelo CdB apostam que Fachin homologará o acordo, em tempo recorde. Antes, no entanto, o ministro deverá convocar Funaro para um depoimento. O delator precisa da confirmação de um magistrado que o acordo de delação foi firmado expontaneamente.

O depoimento tende a ser breve e tomado no gabinete de Fachin. A força-tarefa da Lava Jato espera que o acordo seja confirmado até o fim desta semana. No mais tardar, no início da semana que vem. O conteúdo formal da delação tem sido mantido em sigilo.

Vida boa

Enquanto Funaro apontava Temer como chefe da quadrilha que lesou os cofres da União, Temer descansava em um dos hotéis mais luxuosos de Lisboa. Ele embarcou nesta tarde para Pequim, onde participa de encontro dos BRICS. A comitiva presidencial, formada por ministros, assessores e parlamentares, pernoitou no Ritz Four Seasons, cujas diárias em alta temporada variam de ‎€ 480 a ‎€ 15,1 mil, no caso, a suíte presidencial.

A equipe do presidente ficou cerca de 15 horas em Portugal, de onde seguiu nesta tarde em direção à China. A chegada à capital chinesa está prevista para as 21h30, horário de Brasília. Até agora, o Palácio do Planalto ainda não informou o custo da estadia da comitiva presidencial e o motivo da parada em Lisboa.

Sem obstrução

A provável nova denúncia contra o peemedebista, segundo o presidente da República interino, Rodrigo Maia ((DEM-RJ), “certamente” não irá paralisar os trabalhos da Câmara.

— Enquanto estiver na Comissão (Comissão de Constituição e Justiça [CCJ]), certamente o plenário vai continuar trabalhando e tentando pautar matérias que são relevantes para o Brasil. É o que a gente tem tentado fazer. A gente deve terminar de votar a reforma política, pelo menos naquilo que tem consenso. Não é fácil, mas vamos continuar trabalhando — disse a jornalistas, nesta manhã.

Maia, primeiro na linha de sucessão presidencial, preferiu não comentar se a Câmara deverá, ou não, aceitar um possível novo processo contra Temer. A Câmara barrou a continuidade do primeiro processo por corrupção passiva feito pela PGR contra o peemedebista.

— Não posso falar sobre isso — desconversou.

Rodrigo Janot, poderá apresentar uma nova denúncia contra Temer até o próximo dia 17. Será o último dia de seu mandato à frente da PGR.


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