10/11/2017 às 08h31min - Atualizada em 10/11/2017 às 08h31min

Família Marinho, dona da Globo, aparece em novo escândalo: Paradise Papers

As Organizações Globo e o executivo da RBS negaram ter cometido irregularidades. Mas se recusaram a comprovar a idoneidade dos depósitos citados nos Paradise Papers, em questionamento de jornalistas.

CORREIO DO BRASIL
A Globo é citada no novo escândalo do Paradise Papers

Os papéis secretos, divulgados por jornalistas do International Consortium of Investigative Journalists (ICIJ, na sigla em inglês) — ao qual o Correio do Brasil é associado — apontam os membros da família Marinho como diretores da Global International Company Limited. A empresa é registrada nas Bahamas, desde 1983. A TV Globo Ltda. aparece como principal acionista. O empresário Eduardo Sirotsky Melzer, um dos donos do Grupo RBS, maior afiliada da Globo no Sul do Brasil, também aparece ligado a um sub-trust, administrado pela Appleby.

O fato de serem proprietários de contas em paraísos fiscais não se configura uma ilegalidade, segundo a legislação brasileira. Exceto se os valores mantidos não estiverem declarados à Receita Federal (RF) e ao Banco Central do Brasil (BC). O Grupo Globo e o executivo da RBS, no entanto, recusaram-se a comprovar a idoneidade dos depósitos, em questionamento de jornalistas, encaminhados a eles na véspera. Todos, no entanto, negaram ter praticado irregularidades nas operações.

Paradise Papers

O grupo Abril, que edita a revista semanal de ultradireita Veja, também é citado em quatro empresas offshores; registradas nas ilhas Cayman. Os documentos divulgados referem-se à Editora Abril S.A.; à Abril Investments Corporation; à Mogno Corporation e ainda à Cedro Corporation. Todas empresas vinculadas à sede do grupo, em São Paulo.

Desde o início do Paradise Papers, há uma semana, o titular do Ministério da Fazenda e ex-CEO do Grupo JBS, Henrique Meirelles, e do empresário Jorge Paulo Lemann, um dos executivos mais ricos do mundo, são citados no escândalo. Ambos criaram offshores em paraísos fiscais, com a justificativa de que, assim, pagariam menos impostos.

Ainda nesta quinta-feira, o ICIJ divulga novos papéis secretos, referentes aos principais doadores para políticos norte-americanos. Eles usaram as contas em paraísos fiscais para realizar muitas destas doações; o que é questionável do ponto de vista jurídico, nos EUA. O repórter Spencer Woodman, do consórcio, também investiga os segredos, a confusão e o mundo extremamente interligado das fianças offshore.

Mossack Fonseca

As Organizações Globo também figuram no cenário de fraudes, evasão de divisas, sonegação de impostos, superfaturamento, trafico de influência de um outro escândalo desbaratado pelo ICIJ: os Panama Papers. Estas investigações dizem respeito aos quatro terabytes de documentos vazados sobre a Mossack Fonseca. Trata-se da matriz internacional de offshores, que criou centenas de empresas de papel pelo mundo afora; com o objetivo principal de ocultar o patrimônio dos envolvidos.

As atividades da Mossack Fonseca foram alvo de investigações, no âmbito das operações Lava Jato e Ararath, da Polícia Federal (PF). Carolina Auada e Ademir Auada, representantes da Mossack Fonseca no Brasil, foram interceptados pelos investigadores da PF destruindo provas. Foram presos por isso. Mas o juiz Federal Sérgio Moro achou por bem soltá-los.

“Apesar do contexto de falsificação, ocultação e destruição de provas, (…) na qual um dos investigados foi surpreendido, em cognição sumária, destruindo quantidade significativa de provas, a aparente mudança de comportamento dos investigados não autoriza juízo de que a investigação e a instrução remanescem em risco”, sentenciou Moro.

Mansão suspeita

Como revelaram reportagens posteriores, na mídia independente, a mansão dos Marinho em Paraty (a Paraty House), o heliponto que fica nessa mansão e o helicóptero que a família usa são ou foram, todos, de propriedade de uma dessas empresas de papel criadas pela Mossack Fonseca.

O portal holandês trouw.nl e o Het Financieele Dagblad (A Tribuna Financeira), jornal de alta circulação na Holanda, fizeram uma análise minuciosa dos documentos vazados. No artigo Het balletje rolt (Bola Rolando), o que se retrata é o vazamento de documentos que colocam a Rede Globo no centro de um esquema de fraudes e sonegação de impostos; em uma parceria criminosa com instituições ligadas ao futebol. Entre elas, a CONMEBOL, a FIFA e alguns de seus dirigentes, por meio de contratos falsos e garantias de exclusividades em transmissões.

Os contratos, segundo as reportagens, dizem respeito aos jogos da Copa Libertadores; cujos direitos de transmissão foram cedidos pela Conmebol “mediante pagamentos extras”. Os contratos seriam muito enxutos. Os objetos, porém, excessivamente amplos; e sem cláusulas de exclusividade. “Algo muito incomum para acordos desse tipo”, estranha o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), em artigo reproduzido aqui, no CdB.

Colarinho branco

“Isso, aliado aos valores altíssimos, levantam suspeita sobre sua veracidade”, acrescentou. O marqueteiro de esporte holandês Frank van den Wall Bake, um dos entrevistados, é categórico:

“Todos os contratos que envolvem esses atores são falsos”.

A reportagem ainda cita diversas empresas holandesas envolvidas nos esquemas. Dentre elas, duas com nome T&TSM. Uma, com sede nas Ilhas Caymann, responsável por negociar os direitos de transmissão no continente à Rede Globo; outra, com sede na Holanda, que recebeu todos os repasses.

Pimenta encaminhou ao Ministério da Justiça o pedido de que as operações da Mossack Fonseca no Brasil sejam investigadas.

“Esperamos que esse não seja mais um caso de impunidade de crimes de colarinho branco; em que indivíduos, empresas e famílias extremamente poderosos saem ilesos de seus crimes financeiros. Os negócios da Globo – não bastasse o mal político que faz ao país; (…) precisam ser investigados, porque sobre eles há sérias suspeitas de ilicitude”, concluiu.


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