23/10/2018 às 00h03min - Atualizada em 23/10/2018 às 00h03min

Na favela "Só por Deus", Bíblia foi o que resistiu a incêndio em barracos

Páginas do livro ficaram praticamente intactas, enquanto apenas a capa ficou destruída; voluntários buscam doações para famílias

Liniker Ribeiro
campograndenews

Pouco mais de 24 horas depois do incêndio que destruiu dois barracos na favela "Só por Deus", no Jardim Centro-Oeste, em Campo Grande, o sentimento ainda é de perda para as duas famílias que viram móveis, eletrodomésticos, roupas e também alimentos consumidos pelo fogo. O primeiro dia útil da semana foi de recomeço, e os moradores agora depositam Fé no único item que resistiu ao fogo, uma Bíblia.

"É cabuloso! Queimou tudo, até o vaso derreteu, mas a Bíblia resistiu", revelou Luciano Brandão, de 29 anos, dono de um dos barracos destruídos no fim da manhã de ontem (21). O rapaz, que preferiu não ser fotografado, não estava em casa quando o incêndio começou, mas depois que chegou ao local e viu tudo sendo destruído, afirmou que pensou "apenas em ajudar os vizinhos", moradores de barracos que corriam o risco de ser atingidos.

 
 

Segundo ele, foi tudo muito rápido e não deu tempo de salvar nada. Quanto a Bíblia, Luciano revela não seguir uma religião, mas fez questão de demonstrar sua Fé em Deus. "Eu lia de vez em quando, eu tinha ganhado de presente", contou. Apesar da capa ter sido consumida pelas chamas, as páginas do livro ficaram praticamente intactas, diferente dos demais itens que o morador tinha em casa.

Fogão, cama, roupas, tudo se transformou em cinzas. Sem ter para onde ir, Luciano contou ainda ter sido ajudado por moradores, tendo passado a noite em um outro barraco da comunidade. "O problema é que eu não vou poder passar mais uma noite lá, mas vou dormir nem que seja em uma varanda qualquer", complementou.

O segundo barraco destruído no incêndio pertencia a uma mulher identificada, até o momento, apenas como Débora. Ela residia no local com duas filhas. Assim como o outro morador, a proprietária não estava em casa no momento do fogo e só ficou sabendo de tudo depois que retornou do serviço. De acordo com moradores, ela precisou levar as crianças para a casa da mãe, onde devem ficar até que consigam reconstruir o barraco.

Telhas e cinzas que agora ocupam espaço de barracos (Foto: Kisie Ainoã)

Telhas e cinzas que agora ocupam espaço de barracos (Foto: Kisie Ainoã)

Telhas e cinzas que agora ocupam espaço de barracos (Foto: Kisie Ainoã)
Parte do que foi arrecado entre ontem e hoje para famílias afetadas (Foto: Kisie Ainoã)

Parte do que foi arrecado entre ontem e hoje para famílias afetadas (Foto: Kisie Ainoã)

Parte do que foi arrecado entre ontem e hoje para famílias afetadas (Foto: Kisie Ainoã)

Doações - Voluntários de um projeto social se mobilizam para arrecadar produtos, principalmente móveis, roupas e alimentos, para ajudar as duas famílias afetadas. Até o momento, pessoas que se solidarizaram com a situação dos moradores já doaram duas camas de solteiro, uma de casal, assim como um fogão, sofá, guarda-roupas, uma porta e uma janela.

Apesar disso, os itens doados até o momento ainda não são suficientes para as duas famílias. "Não estou preocupado comigo, eu só espero que essa mãe consiga recuperar o local onde morava com as filhas", conta Luciano, mesmo não sabendo seu destino na noite de hoje.

A presidente do projeto Transformar, Laudicéia Floriano, acredita que o momento agora é de correr atrás de ajudar os moradores. "Estamos arrecadando tudo, pedindo para que quem puder contribuir, mesmo que seja preciso ir buscar, nós vamos, não tem problema", afirmou. Para informações e doações o contato pode ser feito direto com Laudicéia, por meio do telefone 9.9227-1165.

O caso - O Corpo de Bombeiros precisou de 150,5 mil litros de água para conter as chamas que destruíram os barracos. Conforme o tenente Henrique Falcão, não há indícios de que o incêndio tenha sido criminoso e, a principal suspeita, é de curto-circuito na fiação clandestina de energia elétrica.

A região conta atualmente com mais de 60 famílias espalhadas por 68 barracos. Os moradores estão no local há dois anos. Eles contaram que uma equipe da prefeitura foi ao local no mês passado para registrar os nomes dos moradores e agora esperam resposta


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