27/12/2018 às 19h59min - Atualizada em 27/12/2018 às 19h59min

Após virar ré por ser fantasma, funcionária é recontratada e promovida por Marquinhos

EDIVALDO BITENCOURT
ojacaré

Ré por improbidade administrativa por receber R$ 10 mil por mês sem trabalhar, Mara Bethânia Bastos Gurgel Menezes foi recontratada e promovida a secretária-adjunta municipal de Desenvolvimento Econômico e da Ciência e Tecnologia pelo prefeito Marquinhos Trad (PSD). Ela só permaneceu fora da prefeitura entre agosto e novembro deste ano, coincidentemente no período da campanha eleitoral.

Conforme denúncia do Ministério Público Estadual, Mara era funcionária fantasma na Secretaria Municipal de Governo e Relações Institucionais. Só que a mulher, apesar de receber mais de 10 salários mínimos, conforme a ação por improbidade, cuidava da loja de cosméticos, frequentava a academia e buscava o filho na escola no horário de expediente.

Os indícios de irregularidades convenceram o juiz David de Oliveira Gomes Filho, da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, que aceitou a denúncia e a tornou ré por improbidade. Neste mesmo processo, o secretário municipal de Governo, Antônio Lacerda, e Gilberto Kodoglanian Di Giorgio também são réus.

No entanto, Mara Bethânia caiu nas graças de Marquinhos. Conforme a 2ª edição extra do Diário Oficial do Município de 23 de novembro deste ano, ela foi recontratada pela prefeitura e promovida para ser a número dois da Sedesc. A “funcionária fantasma” foi nomeada como secretaria-adjunta no lugar de Fernando Pontalti Amorim, que estava na função desde 2 de janeiro de 2017.

Ela não só terá mais poderes, como manterá o status financeiro, já que o salário de adjunta será de R$ 10.098,90, conforme o valor pago a Fernando revelado pelo Portal da Transparência.

O sobrinho de Mara, Rômulo Barboza Gurgel foi exonerado no mesmo dia de sua recontratação. Ele tinha sido contratado no mesmo dia em que a tia havia sido exonerada em agosto deste ano.

Amorim não ficará sem cargo no município, já que foi nomeado como assessor especial, com salário de DCA-1, e designado para ser gerente de fomento à Indústria da Sedesc.

Mara Bethânia vai ser a substituta imediata de Abrahão Malulei Neto, nomeado no segundo semestre deste ano na vaga do empresário Luiz Fernando Buanain, dono da rede de farmácias em recuperação judicial São Bento.

Mara foi nomeada 14 dias depois de juiz aceitar denúncia por improbidade administrativa. Tipo, parece que suspeita virou motivo agregar pontos ao currículo (Foto: Reprodução)

A polêmica marca justamente a pasta encarregada de promover o desenvolvimento econômico de Campo Grande, que sofre com a freada nos investimentos desde a gestão de Alcides Bernal (PP) e com o desemprego, a chaga nacional do momento.

Não é o primeiro caso de funcionária fantasma na gestão de Marquinhos. A pedagoga Ilcemara Lopes Moraes de Oliveira, esposa do vereador Cazuza (PP), foi funcionária fantasma da Secretaria de Governo por 10 meses. Ela recebeu R$ 2 mil por mês, mas nunca ficou sabendo que era funcionária do município.

Aliás, a história é tão surreal, que todos os ouvidos pelo promotor Humberto Lapa Ferri, como o prefeito, o vereador, o secretário e a esposa, não sabiam da nomeação. Ela devolveu o dinheiro após o MPE tomar conhecimento do caso por meio de denúncia anônima.

O eleitor poderá levar um puxão de orelhas do secretário estadual de Cultura e Cidadania, Athayde Nery, que foi candidato a prefeito pelo PPS. Em 2016, ele acusou Marquinhos de ser funcionário fantasma da Assembleia Legislativa.

No calor do debate eleitoral, o MPE descobriu que o prefeito foi nomeado na Assembleia pelo pai, o então deputado estadual Nelson Trad, sem concurso e efetivado no cargo sem respaldo legal. Ele tinha menos de cinco anos para ser efetivado, como determinou a Constituição de 1988.

No entanto, defendido pelo irmão, o deputado federal Fábio Trad (PSD), Marquinhos conseguiu trancar a ação graças ao Tribunal de Justiça, que a considerou inoportuna após mais de duas décadas. O prefeito chegou a ser promovido de funcionário pelo legislativo estadual, mesmo não tendo concurso.

Nas eleições deste ano, Mara Bethânia trabalhou na campanha de Fábio, o segundo mais votado para a Câmara dos Deputados. Quando O Jacaré publicou a matéria sobre a ação por improbidade, o parlamentar negou que a “funcionária fantasma” tenha sido uma das coordenadoras da sua campanha.

Sobre a recontratação e promoção de Mara, a assessoria de Marquinhos informou a denúncia está sendo apurada. “A prefeitura abriu procedimento interno para investigar o caso. A funcionária tem o direito de defesa. No caso de culpa, as penas serão devidamente cumpridas”, destaca.

Na atual conjuntura da política brasileira, onde há uma guerra entre a classe política, para manter os maus costumes, e os órgãos de controle, o antigo ditado popular é mais do que oportuno. O governante deveria seguir a recomendação a mulher de César. “Não basta ser honesta, mas parecer honesta”.

Marquinhos está apelando da boa fé dos campo-grandenses, embora muitos já tenham perdido a paciência.


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