05/09/2019 às 09h24min - Atualizada em 05/09/2019 às 09h24min

‘Saqueava os fiéis e enchia os bolsos’, revela diácono sobre pastora golpista

Suspeita usava cartões das vítimas para pagar suas contas e da igreja

Renan Nucci
midiamax

“Saqueando o inferno e povoando o céu”. Este era o slogan da Igreja Palavra Viva, localizada na Vila Palmeira, em Campo Grande, onde atuava a pastora Claudeci Santos Almeida, de 32 anos, presa por estelionato, suspeita de explorar a fragilidade emocional de fiéis e exigir a eles dinheiro em troca de campanhas de oração. Ela foi presa nesta semana em Ribas do Rio Pardo e transferida para a Capital.

De acordo com o diácono Paulo César Coelho, as atitudes da pastora iam totalmente contra os princípios da igreja. “Ela saqueava os fiéis e enchia o próprio bolso”, disse ele que foi um dos responsáveis por descobrir a farsa e denunciá-la à polícia. “Comecei a conversar com as pessoas e fui descobrindo a história. Soube que ela pedia dinheiro e que tinha mandado de prisão em aberto [em Goiás]. Então formamos um grupo, reunimos as informações sobre os golpes e fizemos a denúncia”, explicou.

Paulo relata que Claudeci mentia afirmando que todas as suas ações eram um propósito de Deus. Desta forma, pedia dinheiro às vítimas prometendo devolver em dobro. Ou seja, a estelionatária dizia que os valores seriam encaminhados a pastores que iriam orar e que dentro de sete ou 14 dias tudo seria devolvido. “Ela dizia que o dinheiro ia multiplicar na sua mão, que você poderia empregar na tua empresa ou na tua família, e que iria prosperar”.
 

Os relatos apontam que ela agia como um verdadeira “Engenheira Social”, com grande poder de persuasão. Ela abusava da ingenuidade e da confiança dos demais para obter informações particulares e depois usá-las em seu favor. “Ela te olhava de cima a baixo e descobria teu ponto fraco. A partir disso, explorava ao máximo o problema. Se seu marido foi embora, ela dizia que iria voltar. Se sua empresa tinha problemas, ela dizia que você iria prosperar e que não faltaria pão em teu celeiro”.

Paulo conta que conheceu a pastora a partir de uma igreja no bairro Taquarussu, onde ela começou a explorar os fiéis em busca de dinheiro, no entanto, outra pastora desconfiou da situação e a retirou do local, oportunidade em que ela abriu o templo na Vila Palmira. Claudeci agia com muita sutileza e usava o caráter particular dos encontros para acobertar os golpes. Em média, cobrava a partir de R$ 7 mil para realizar campanhas de oração. “Ela dizia que sete era o número de Deus, mas teve vítimas que chegaram a perder R$ 20 mil”.

Vida boa

Com o dinheiro em mãos, ela desfrutava comprando roupas, gastando em supermercados e com os filhos. Até mesmo objetos da igreja, como o púlpito e aparelhos de som, ela usou cartão de fiéis para pagar. Na Capital, duas vítimas registraram boletim de ocorrência. Uma delas é uma empresária de 42 anos que diante da crise financeira, foi aconselhada a realizar uma campanha de oração. 

Ao todo a estelionatária cobrou R$ 7 mil pelos serviços religiosos e mais R$ 1.200 por uma porção de mirra, que segundo ela, vinha de Israel. A segunda vítima é uma dona de casa de 38 anos que teria pago R$ 5 mil a falsa pastora por uma campanha religiosa. Além disso, a vítima ainda teria emprestado mais R$ 2 mil para a acusada, repassados via compra no cartão de crédito. 

Uma agente de saúde de 54 anos, que não quis se identificar, disse que teve prejuízo de R$ 160 com a pastora que comprou lingeries e não pagou. “Não é muito dinheiro, para eu que sou assalariada e tenho pai doente, esse dinheiro já representa as frutas que ele come no mês”, explicou. Uma colega de trabalho dela, de 32 anos, que vende cosméticos, teve prejuízo de R$ 1 mil. “A pastora pegou tudo o que a menina tinha a pronta entrega e nunca pagou”.


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