26/03/2020 às 13h56min - Atualizada em 26/03/2020 às 13h56min

Demanda por leitos deve aumentar em abril

UTIs públicas têm 88% de ocupação; período de internação pode chegar a 30 dias

Bruna Aquino, Daiany Albuquerque
Correio do Estado

Médicos e autoridades de saúde estimam que os casos graves de pacientes com Covid-19, doença causada pelo coronavírus, possam começar a ter uma escalada nos próximos 10 dias. Como o tempo de internação de um paciente – com chances de sobreviência – pode chegar a 30 dias, a rede pública e privada de saúde e até mesmo o Exército estão montando hospitais de campanha em Campo Grande e tendas para atender pacientes.

O Correio do Estado apurou que as tendas externas, montadas nos hospitais, poderão atender mais de 150 pessoas simultâneamente. “Muita gente pode estar estranhando a ampliação de leitos e instalação destas tendas, mas esta hora pode ser a mais grave. É importante manter as pessoas em casa e reduzir qualquer possibilidade de contágio agora”, explicou gestor de hospital privado, que pediu para não ser identificado.

Além destes 150 leitos nas tendas, a Capital terá aproximadamente 300 leitos de UTI disponíveis para tentar suportar a demanda, que as autoridades esperam que não seja alta, justamente por causa do isolamento social.

A rede hospitalar já se prepara para o pior, e, além das vagas ocupadas nas tendas, começa a desocupar alguns leitos de unidade de tratamento intensivo (UTI). Na rede pública, a lotação é de 88%, enquanto na rede privada a ocupação em alguns hospitais caiu bruscamente com a redução das cirurgias eletivas e com o isolamento social – está em 25%.

Além de evitar a propagação do vírus, o isolamento social também permite uma calmaria nas outras demandas de leitos de UTI, como acidentes de trânsito e complicações oriundas de cirurgias eletivas. Somente os casos crônicos, casos de cardíacos e de pacientes com câncer, por exemplo, continuam com a demanda permanente.

RECUPERAÇÃO LENTA

A recuperação lenta dos pacientes com novo coronavírus é que pode gerar colapso no sistema. Em Campo Grande, dois pacientes confirmados com a Covid-19 estão internados, ambos no Proncor. Um deles, que deu entrada no dia 17 deste mês com angústia respiratória,  não tem previsão de alta. Para casos mais graves como este, os médicos estimam até um mês de internação.

De acordo com a médica Joanna Beatriz Curado Elias, 39 anos, que é diretora-técnica do Proncor, essa demora na recuperação do quadro clínico dos pacientes é o que preocupa as autoridades de saúde e o que poderá sobrecarregar os hospitais da Capital.

“Essa doença não é como algumas que levam muitas pessoas ao hospital, mas em dois dias elas já recebem alta. A cura desses pacientes é muito demorada, vai de 14 a 21 dias, e o nosso caso mais grave eu acredito que ele não saia do hospital em menos de um mês. Então, esse é o grande problema, a melhora desses pacientes é lenta e, depois que ele consegue sair do respirador, ainda tem o tempo que ele vai levar para recuperar os movimentos”.

O caso mais grave é de um homem de 38 anos, com algumas comorbidades e que está entubado na UTI do hospital. Segundo o centro médico, no fim de semana, o paciente apresentou melhoras nos exames laboratoriais, entretanto, ainda precisa de ajuda para respirar e segue sedado. “Essa demora na recuperação é que faz afogar o sistema de saúde e por isso é preciso a prevenção”, alertou a diretora-técnica.

Além desse paciente, o hospital também trata de outros três casos, sendo um confirmado e dois suspeitos. Esses, entretanto, estão em situação bem diferente, isolados, mas sem necessidade de serem mantidos nos respiradores. “O segundo confirmado tem 46 anos, também tem algumas comorbidades, mas está estável e já saiu da UTI para o quarto”, contou a médica.

SUSPEITOS

Sobre os casos suspeitos, duas mulheres com idades entre 40 e 60 anos estão bem e seguem no hospital em isolamento apenas por conta da febre que apresentam diariamente. Para essas pessoas, o Proncor tem administrado junto de outras medicações o Tamiflu, usado para casos de H1N1.

“Como não sabemos ainda o que essas pessoas têm e no começo os sintomas são muito semelhantes aos da influenza, a gente tem dado essa medicação aos pacientes sem diagnóstico fechado, esse é o nosso protocolo. Mas, se há confirmação para a Covid-19, nós retiramos o Tamiflu porque não há confirmação de que esse remédio funcione nestes casos”, explicou a médica.

Para pessoas com o novo coronavírus, os remédios que o hospital tem disponibilizado são hidromicina e hidroxicloroquina, que têm sido usados em todo o mundo. Entretanto, a médica destaca que esses medicamentos não são a cura para a doença. “Ainda não exite cura, e a gente pede para que as pessoas que estou usando o hidroxicloroquina como profilaxia não faça isso, porque atrapalha no tratamento dos pacientes que realmente precisam”.

Gestores temem ocupação de leitos de alta complexidade, por conta de recuperação lenta de pacientes com Covid-19. A internação pode durar em média 30 dias.

 *Colaboraram Eduardo Miranda e Adriel Mattos


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