Dois dias após o presidente americano, Donald Trump, anunciar a compra de 1,8 milhão de máscaras de proteção para proteger seus cidadãos da pandemia da Covid-19, o secretário do Interior do estado de Berlim, Andreas Geisel, acusou nesta sexta-feira, 3, os Estados Unidos de contrabandear 200.000 respiradores destinados à capital alemã. Os americanos têm sido alvo de críticas de políticos europeus, e até do ministro da Saúde brasileiro, Luiz Henrique Mandetta, por impulsionar a demanda pelos equipamentos de saúde e, consequentemente, diminuir sua oferta.
“Consideramos isso um ato de pirataria moderna. Não é assim que você lida com parceiros transatlânticos”, disse Geisel à emissora pública alemã RBB. “Mesmo em tempos de crise global, nenhum método do ‘velho oeste’ deve ser usado”, concluiu o secretário, que demandou dos americanos o cumprimento do direito internacional.
Os 200.000 respiradores a que se refere Geisel fazem parte de um carregamento de 400.000 respiradores encomendados pelas autoridades alemãs à China e com destino ao Departamento de Polícia de Berlim. Segundo as autoridades alemãs, os produtos foram desviados para entrega aos Estados Unidos quando estavam sendo transportados entre uma aeronave e outra na Tailândia.
O estado de Berlim sozinho responde por 4% dos mais de 85.480 casos da Covid-19 reportados na Alemanha, segundo o jornal alemão Bild. Mais de 20 pessoas morreram na capital alemã em decorrência da doença.
Além dos alemães, os franceses também criticaram nesta sexta-feira a postura americana na compra de aparatos médicos.
“Fomos pegos de surpresa”, disse Valérie Pécresse, a governadora da Île-de-France — região onde fica a cidade de Paris — sobre a demanda americana pelos equipamentos de saúde. “Eles ofereceram três vezes o preço e propuseram pagar adiantado. Eu não posso fazer isso”, concluiu Pécresse.
A governadora francesa ressalta que sua crítica “não é ao governo americano”, e aponta os cidadãos americanos no geral como responsáveis pelo aumento na demanda. “Estou gastando recursos públicos e só posso pagar na entrega depois de verificar a qualidade”, explica Pércresse, se comparando a um consumidor americano.
Mais de 1.700 pessoas morreram em decorrência da epidemia na Île-de-France, que é a região mais afetada pela Covid-19 na França, respondendo por 16% dos casos do país, segundo o Ministério da Saúde francês.