16/06/2020 às 10h47min - Atualizada em 16/06/2020 às 10h47min

Caixa pagou auxílio emergencial a 1,2 mil servidores públicos em MS

Enquanto R$ 719 mil auxílio emergencial foram para quem tem emprego; casal que precisa do dinheiro ficou sem o benefício

Gabrielle Tavares, Súzan Benites
Correio do Estado
Casal foi à agência da Caixa pela quarta vez neste mês para tentar recuperar o benefício sacado por outra pessoa - Foto: Bruno Henrique / Correio do Estado

O auxílio emergencial de R$ 600 já teve duas parcelas liberadas para o saque. Em Mato Grosso do Sul, alguns beneficiários ainda não conseguiram receber nem a primeira parcela, outros fraudam o benefício e há ainda quem é vítima de golpe. Enquanto idosos aguardam o dinheiro para comprar o básico e descobrem que o valor já foi sacado, funcionários públicos embolsaram R$ 719,4 mil do benefício.

Levantamento feito pela Controladoria-Geral da União (CGU) e Controladoria-Geral do Estado (CGE) aponta que 1.126 servidores públicos ativos e inativos em Mato Grosso do Sul receberam de forma irregular o pagamento do benefício de R$ 600 do governo federal. O cruzamento de dados ainda mostrou que 259 desses servidores poderão responder a processo administrativo e judicial por falsidade ideológica, já que fizeram o cadastro no Ministério da Cidadania declarando não ter vínculo empregatício.

“Aqui foi feita uma parceria com a CGE, em que foi disponibilizada a base de dados dos servidores públicos do Poder Executivo estadual e realizado esse cruzamento para verificar a possível concessão irregular de auxílio emergencial a servidores. Um critério da ilegibilidade da concessão é a existência de emprego formal ou ser beneficiário de qualquer serviço previdenciário”, explicou o superintendente da Controladoria Regional da União, Daniel Carlos Siqueira.

IRREGULARIDADES

O controlador-geral do Estado, Carlos Eduardo Girão de Arruda, informou que os benefícios irregulares foram pagos em sua maioria para aposentados e pensionistas (84,9%) e servidores da Educação (12,7%). “O perfil salarial é o mais diverso possível. Você encontra boa parte dos servidores ganhando um salário mínimo e até aposentados que tiveram benefício bruto de R$ 35 mil, mas posso te dizer que mais de 80% não recebem mais de R$ 6 mil”, explicou.

De acordo com o controlador, além devolver valores, servidores terão de se explicar. “Podem ter sido vítimas de uma fraude, como a gente vê ocorrendo, a pessoa pega um CPF e pede por ela, abre uma conta no banco, às vezes, pode ser isso. Então, eles vão ter de se explicar”, considerou Girão.

O Ministério da Cidadania foi notificado para cancelar todos os pagamentos indevidos e o Ministério Público Estadual será acionado para eventuais medidas judiciais cabíveis. Segundo as Controladorias, a maior parte dos servidores pode ter recebido o pagamento indevidamente, por conta de informações desatualizadas no ministério. São pessoas que estavam cadastradas no CadÚnico, que é o conjunto de informações sobre as famílias brasileiras em situação de pobreza que são usadas pelo governo para políticas públicas.

VÍTIMAS DE GOLPE

Entre as vítimas de golpe, a cuidadora Benedita Inocente Macedo, 60 anos, e seu marido Jaime Souza Guimarães, 54 anos, contaram ao Correio do Estado que, quando chegaram para receber o auxílio, foram informados de que ele já havia sido sacado. “Quando chegamos ao banco, dia 5 de junho, entramos para sacar e o funcionário da Caixa falou que a gente já tinha sacado. Falamos que não, que nem tínhamos ido ao caixa eletrônico e era a primeira vez que a gente ia para pegar o dinheiro”, relatou Benedita.

O benefício é de Jaime, mas a esposa foi quem procurou o Correio do Estado para fazer a denúncia. Segundo ela, o gerente da agência da Caixa abriu uma sindicância para investigar o desaparecimento do dinheiro. Mais pessoas reclamaram sobre o mesmo problema dentro da agência.

Para efetuar o saque do auxílio, é necessário cartão do banco e a senha da conta. Benedita explicou que não passou os dados para ninguém e só o casal tem acesso a conta.  

“Perguntei se não dava para ver as imagens da câmera de segurança, para ver quem pegou  o dinheiro, e ele [funcionário] me disse que a Polícia Federal estava investigando. Eu falei que então ia à polícia, mas ele me disse que não precisava. Só que eles nunca me deram alguma garantia, nenhum papel”, afirmou.  

Nesta segunda-feira (15), o casal voltou à agência pela quarta vez.“Era para estarmos recebendo a segunda parcela, mas não recebemos nem a primeira. Eles só me falam para voltar, ai tem que ficar vindo aqui toda semana. Faz muita falta o dinheiro, se não fizesse, a gente não ficava insistindo. Ficam me falando para esperar que uma hora vai cair, mas as contas não esperam, né”, concluiu Benedita.

A cuidadora disse que ligou para a PF para pedir orientações e a delegacia a informou que já havia outras denúncias iguais à dela registradas. A agência da Caixa foi procurada pela reportagem e declarou que registrou a ocorrência, mas que não era autorizada a dar entrevistas.  

O Correio do Estado procurou a Caixa para saber o número de beneficiários no Estado, quantidade de fraudes registradas e como agir em caso de golpe, mas até o fechamento dessa reportagem não houve retorno.


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