26/06/2021 às 10h12min - Atualizada em 26/06/2021 às 10h12min

Concurso junino é palco de sessão de fotos e dá show de representatividade para crianças autistas em MS

Afetadas pela pandemia, crianças com TEA aproveitaram as consultas para socializar com festividades

Dândara Genelhú
MIDIAMAX

Um concurso valendo um bolo vulcão se tornou um dos maiores eventos sociais para crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista) que moram e fazem tratamento em uma clínica de Campo Grande. Vestidas com trajes típicos para a Festa Junina, elas trabalharam dificuldades sociais e tiraram várias fotos para as famílias.

A fonoaudióloga Marina Fregnan, que é proprietária do Espaço Intervenção, explica que a “ideia do concurso da foto mais votada surgiu devido à pandemia e não podermos fazer festas para os nossos pacientes, como nos anos anteriores”. Há mais de 20 atuando na área, resolveu criar o espaço que atende crianças com diagnóstico de TEA, dislexia, síndrome de down e outros.

Com as roupas típicas e felicidade estampada, nas fotos alcançaram mais de 1 mil curtidas no Instagram. Muito mais do que engajamento, a fonoaudióloga Marina explica que as fotografias são peças únicas para as famílias.

“No caso do autismo nem sempre é fácil uma boa foto devido a dificuldade do contato visual. Conseguimos imagens lindas que essas famílias irão guardar para sempre”, comemora. Além disso, por causa da visibilidade, as imagens são forma de representatividade e inclusão das crianças.

Sabendo da importância da socialização para essas crianças e dos limites da pandemia, resolveu incentivar os pequenos e famílias a irem às consultas caracterizados. No local, fotos foram tiradas para compartilharem no Instagram. Então, quem ganhar mais curtidas leva um bolo vulcão cheio de cobertura.

Mas não foi o bolo o maior prêmio do concurso. Isoladas por causa do coronavírus, famílias puderam inserir os filhos em um ambiente de socialização, festividade e tirar belas fotografias. A farmacêutica Alessandra Mori é mãe do Ricardo, que é mais conhecido como Rico, de apenas 11 anos.


Rico, como é conhecido, monstrando que caprichou na barba e chapéu de palha para a fotografia do concurso. Foto: Reprodução | Espaço Intervenção.

 

Olha a chuva! É mentira!

Com diagnóstico de TAE em nível moderado, nem sempre Rico se dá bem em socializações ou sair da rotina. Mas neste ano, a época junina fez o menino ficar radiante de felicidade, contagiando toda a família. “Esse ano foi muito bacana porque ele ficou muito feliz quando mostrei as roupinhas xadrez que comprei”, lembra Alessandra.

O acompanhamento em clínicas, terapeutas, escolas e em casa, possibilitou que Ricardo entendesse melhor as festividades. “Ele entendeu todo o contexto, foi tanto nas clínicas que ele faz o tratamento, quanto na escola, de caipira, participou das brincadeiras e gostou”, diz a mãe cheia de orgulho.

De camiseta listrada, chapéu de palha, bigode e barba desenhada, Ricardo brincou e tirou várias fotos no Arraiá da clínica. Mas nem sempre ele se sentia bem com a caracterização.

Alessandra conta que uma das dificuldades que passou com Ricardo era justamente a barba caipira, que muitas mães fazem nas crianças com lápis de olho e maquiagens. “Dessa vez ele achou muito legal, ele quis até o chapéu, quis usar toda a roupa. Então a gente percebeu que ele entendeu todo o contexto, que é uma brincadeira, uma festividade e atividade social”.

Neste ano as crianças capricharam nas roupas festivas. Antonela de apenas seis anos tinha laços na cabeça com fitas coloridas, pintinhas nas bochechas, vestido xadrez e até as unhas combinavam com as cores da roupa.

Diagnosticada com TAE no nível dois, a menina possui dificuldades para socialização e comunicação. São em momentos como a Festa Junina que Antonela tem a oportunidade de se desenvolver.

Neste ano, a enfermeira Carol Tencate e mãe de Antonela, lembra que a festa foi incrível. “A experiência da ação junina foi ótima”.

Grande roda!

Infelizmente o conceito de que pessoas com transtorno do espectro autista não podem socializar ainda é compartilhado na sociedade. Mas Carol lembra que basta olhar para as “carinhas delas, é nítido a alegria e felicidade que demonstram quando são incluídas e tratadas de forma igual”.

Nesse sentido, Alessandra destaca que qualquer ação promovida com intenção de incluir essas crianças e pessoas de outras idades é válida e necessária. Ela espera que um dia chegue a realidade em que “a gente vá numa livraria e encontre naturalmente pessoas de cadeiras de rodas, surdas, cegas, andando livremente e exercendo a liberdade”.

Se antes já era difícil garantir a socialização adequada aos filhos com TAE, na pandemia a situação ficou ainda mais complicada. Há quase dois anos isolados, socialmente falando, a família de Ricardo acabou ficando sem opções depois da chegada do coronavírus.

“Não poder sair com eles, não poder expôr por eles não conseguirem usar as máscaras de maneira adequada, não entendem que não podem encostar em tudo”, são alguns dos desafios listados por Alessandra. “De repente a pandemia veio e acabou nos podando, tirando N oportunidades de socialização”, lamenta.

Carol passa pelas mesmas dificuldades com a filha durante a pandemia. “Como para qualquer pessoa, independente de qualquer diagnóstico, está sendo muito difícil estar afastado do convívio social, mas para as crianças autistas está sendo bem mais pesado esse distanciamento”.

A enfermeira explica que os pequenos são diretamente afetados, pois o convívio social “é fundamental para seu desenvolvimento”. Então, ações como a Festa Junina, servem para não desanimar as famílias. Confiante e esperançosa, Carol afirma que “que tudo isso vai passar”.


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