05/09/2015 às 12h14min - Atualizada em 05/09/2015 às 12h14min

Crianças sirias são enterradas ao lado da mãe em Kobani

CORREIO DO BRASIL
Os dois meninos sírios que se afogaram com a mãe enquanto tentavam chegar à Grécia foram enterrados na cidade síria de Kobani

Os dois meninos sírios que se afogaram com a mãe enquanto tentavam chegar à Grécia foram enterrados na cidade síria de Kobani nesta sexta-feira, disse uma testemunha à agência inglesa de notícias Reuters.

Uma fotografia do corpo de uma das crianças, Aylan Kurdi, de 3 anos, na areia de uma praia, foi publicada em jornais de todo o mundo nesta semana, gerando indignação pela perceptível falta de ação das nações desenvolvidas em ajudar os refugiados.

Abdullah Kurdi, o pai, participou do funeral, em que os corpos foram enterrados lado a lado em uma “cerimônia de mártires” na cidade predominantemente curda de Kobani, também conhecida como Ayn al-Arab, perto da fronteira com a Turquia.

Falando sobre a travessia da fronteira, Kurdi disse que esperava que a morte de sua família encorajasse Estados árabes a ajudaram refugiados sírios.

– Quero que os governos árabes -não países europeus- vejam (o que aconteceu com) as minhas crianças, e por isso ajudem as pessoas – disse em declarações a uma rádio local.

As crianças escaparam das minhas mãos

“Todos gritavam na escuridão. Não podia fazer com que minha mulher e meus filhos me ouvissem”. A mulher Rehan, de 35 anos, e os meninos Aylan, de três, e Galip, de cinco, escaparam das mãos de Abdullah Kurdi.

O sírio de Kobani, cidade assolada pelos extremistas do grupo “Estado Islâmico” (EI), foi o único sobrevivente do naufrágio de um barco com 12 refugiados, próximo à praia do resort de Bodrum, na Turquia. Eles tentavam chegar à ilha de Kos, na Grécia. Um outro bote com 16 pessoas, inclusive crianças, também virou.

– Queremos a atenção do mundo sobre nós para prevenir que o mesmo não aconteça com outras pessoas – disse Abdullah a jornalistas.

Recusados no Canadá

Abdullah e a família tinham fugido para a Turquia, de onde tentavam conseguir refúgio no Canadá. A irmã de Abdullah, Teema Kurdi, que vive há 20 anos em Vancouver, fez o pedido de asilo em nome dos familiares em junho, mas as autoridades canadenses negaram a solicitação.

– Tentei me responsabilizar por eles, e tenho amigos e vizinhos que me ajudaram com os depósitos bancários, mas não consegui tirá-los da Turquia. Por isso, eles entraram no barco – afirmou à imprensa canadense. “Cheguei até a pagar o aluguel deles na Turquia, mas é horrível a forma como tratam os sírios por lá.”

Apesar de o Canadá ter concordado em receber cerca de 20 mil refugiados sírios, apenas mil chegaram ao país até o final de julho. Abdullah disse que as autoridades canadenses lhe ofereceram a cidadania após o naufrágio, mas ele recusou.

Pânico a bordo da embarcação

Abdullah fez severas críticas ao tratamento recebido pelos refugiados na Turquia. “Queremos que o mundo todo veja as coisas que aconteceram para nós aqui, no país onde nos refugiamos para escapar da guerra em nossa terra natal”, disse.

Em uma ação desesperada, Abdullah pagou duas vezes a atravessadores para embarcar clandestinamente para a Grécia, mas as tentativas fracassaram.

Junto com outros migrantes, a família decidiu encontrar um barco e remar por conta própria até a costa grega. A travessia teve o fim trágico. As pessoas entraram em desespero ao verem a água entrando na embarcação, que naufragou em seguida. “Que isso não aconteça mais. Que tenha sido a última vez”, lamenta Abdullah.


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