Amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder sindical e ex-ministro petista, Luiz Marinho (PT) deixou o cargo de prefeito de São Bernardo do Campo no último domingo. De volta à lida política, ele apoia, agora, um pacto político para a antecipação das eleições para o segundo semestre de 2017.Marinho critica a tese de impeachment de Michel Temer e a deposição da chapa Dilma-Temer pela Justiça Eleitoral. Para ele, seria uma segunda fase do golpe de Estado, em curso no país. Segundo o ex-prefeito, o Congresso deve assumir a responsabilidade de antecipar a eleição. Defende também a candidatura de Lula à Presidência, e diz que a hipótese de apoio a Ciro Gomes (PDT) é “quase zero”.
— O Lula deve ser candidato. Na circunstância de ataque, de agressão, de busca de destruição do legado do Lula, ele não tem saída a não ser sair candidato. Lula tem consciência disso — disse Marinho ao diário conservador paulistano Folha de S. Paulo.
— O Congresso teria esse desprendimento de reduzir o próprio mandato? E os governadores, deputados estaduais?
— Será preciso uma pactuação política entre partidos e líderes políticos. Seria uma mesquinharia falar no próprio mandato. Estamos falando do Brasil, de desemprego, da ausência de emprego para jovens, de não enxergarmos saída. Suportar a situação até as eleições de 2018 é sangrar demais a economia.
A retomada de normalidade tem que passar por uma repactuação política da sociedade. E vai acontecer só no segundo turno das eleições, em 2018, que o Congresso deveria assumir a responsabilidade de puxar para 2017. E dessa forma, se faz uma pactuação nessa coisa de “fora, Temer”, de “não fora, Temer”. O Temer vai governar, mas vai governar no período de um ano ou menos.
— O PT abraçaria isso?
— O PT tem que dar sua contribuição. É a ideia que serve para as lideranças de todos os partidos. Fala-se em eleições indiretas. Eleição indireta não é a solução. Eleição indireta é o golpe dois. Ou golpe três. Não vejo uma saída que não seja pelo voto direto.
— Nesse caso, o Lula deveria ser candidato?
— O Lula deve ser candidato. Na circunstância de ataque, de agressão, de busca de destruição do legado do Lula, ele não tem saída a não ser sair candidato. Lula tem consciência disso.
— O PT estaria disposto a negociar com Temer depois do processo traumático do impeachment?
— O PT não vai se recusar a discutir uma saída para o país. O governo Temer está mostrando que não tem capacidade. Temos que lançar mão dos elementos constitucionais para a saída da crise. Então, quem está trabalhando a partir da prestação de contas, forçando a barra da prestação de contas da campanha Dilma-Temer para afastar o Temer, condenar a Dilma-Temer para viabilizar uma eleição indireta, esse é outro grande golpe. Golpe dois.
— Há no Congresso líderes capazes de conduzir esse processo?
— Claro. Até para recuperar sua imagem. Quando se está mais lascado, tem que ser mais ousado. Evidente que Temer tem responsabilidade, e as lideranças partidárias também. Se o Congresso estiver imbuído da busca de uma solução, a tendência é que as lideranças possam apoiar.
Não devemos nos lançar num processo de revanchismo: porque a Dilma foi cassada, querer cassar Temer. Precisamos de uma saída. Aguentar o governo Temer até 2018 é muito sacrifício para o povo.
— O sr. defende que Lula seja presidente do partido.
— Defendo que seja presidente do partido e candidato a presidente da República. É a liderança que melhor reúne condições de construção de unidade partidária nessa fase conjuntural. Para a Presidência, não há outra liderança em melhor situação eleitoral do que o Lula. Então, para que perder tempo e divagar sobre isso?
— Existe a possibilidade de apoiar Ciro Gomes?
— A hipótese é quase zero. O PT tem candidato. E não é o Ciro Gomes. A próxima eleição vai reproduzir a de 1989. Muitas candidaturas e uma pactuação no segundo turno, que significará a pactuação política para conduzir o país. Vejo a candidatura do Ciro Gomes com bons olhos. Mas não como candidato do PT.
— Como o sr. avalia a derrota do PT no grande ABC, especialmente em São Bernardo, apontando para o ocaso do partido?
— Quem é candidato à reeleição é mais flagrante. No nosso caso não é assim. Se fosse candidato à reeleição, tenho certeza que seria reeleito.
— Então o que aconteceu no entorno, no grande ABC, berço do PT?
— O PT foi vítima de um processo contínuo de espancamento público que culminou na boca da eleição com ações espetaculosas, da PF, do MPF, do seu Moro, da prisão desnecessário do Guido e do Palocci, na oferta de denúncia contra Lula. E pintou esse tsunami eleitoral.
O grande fenômeno Doria conseguiu espalhar isso. Agora, o grande fenômeno Doria não chegou a 30% do eleitorado da capital. É isso que a mídia tem que refletir, o tamanho da irresponsabilidade da mídia, que ajuda a conduzir a um processo perigoso, que é a minoria estar decidindo.
— O Instituto Lula divulgou uma nota afirmando que a Lava Jato atingiu um grau de loucura para inviabilizar sua candidatura. Há um risco de a candidatura Lula ser inviabilizada?
— Acredito que a loucura irresponsável da condução da Lava Jato, se não é, parece que querem inviabilizar a candidatura da Lula. A melhor maneira de Lula é denunciando, fazendo enfrentamento. Não é baixar a cabeça para Moro nem para ninguém.
— Não existe o risco de o PT ficar sem plano B?
— Não acredito que vão condenar o Lula e tirá-lo da eleição. Acredito que seja um desejo. A melhor maneira de impedir essa irresponsabilidade é fazer o debate conforme o Lula está fazendo.
Para Lula, de acordo com sua última declaração do ano passado, o Brasil só vai superar a crise e retomar o crescimento se investir mais no mercado interno e passar por novas eleições. Lula publicou um vídeo em sua página no facebook pra comentar o cenário político e econômico do país.
— O Brasil depende muito, mas muito do seu mercado interno. Nós somos mais de 204 milhões de pessoas, nós temos um potencial extraordinário de aquecer o nosso mercado interno e para isso é preciso a gente ter uma política de crédito mais agressiva… É preciso voltar a discutir desenvolvimento, discutir crescimento econômico, que gera emprego, que gera aumento de salário, que gera consumo, e que gera mais emprego — afirma Lula.
O ex-presidente aponta as razões para o governo de Michel Temer estar levando o país a uma crise econômica sem precedentes.
— Tem duas palavras mágicas em economia: credibilidade e previsibilidade. Se o povo e o governo não tiverem isso, ninguém acredita, nem o mundo exterior, nem aqui internamente — disse.
Lula aponta a necessidade de recuperar a credibilidade do governo central e a previsibilidade das políticas econômicas e sociais.
— “Penso que, se a gente quiser voltar a crescer, vai ter que pensar em ter um presidente eleito democraticamente pelo povo. Como a gente não pode esperar até 2018, quem sabe a gente tenha que fazer uma PEC (proposta de emenda à Constituição) e antecipar as eleições — concluiu.