Prefeito de São Paulo, João Doria revelou, publicamente, a traição ao seu padrinho político Geraldo Alckmin. Ele admite agora, aos quatro ventos, a possibilidade de deixar o ninho tucano. A posição de Dória agrava a crise interna no PSDB que, agora, vê a crescente revoada de parlamentares e líderes tucanos como risco de extinção da legenda.
Em uma entrevista a um dos diários conservadores paulistanos, Doria insinua ser mais forte, politicamente, do que Alckmin.
— Ao meu ver, sim. Se alguém tiver dúvida em uma pesquisa, que faça duas. Se tiver dúvida em duas, que faça três. Não ouvir o povo pode ser um erro fatal para o PSDB — disse. Ele acentua que tem aparecido, nas pesquisas, com uma rejeição menor do que a de Alckmin.
Repudiado
Quanto a deixar o ninho tucano, não deixou dúvidas:
— Não tenho intenção de mudar de partido, mas é sempre bom ouvir de outros partidos que você é bem-vindo. Não é só o PMDB e o DEM. Outros dois partidos tiveram a gentileza e a delicadeza de abrir as portas caso necessário.
Doria contabiliza, ainda, os convites de Michel Temer para ser o candidato presidencial pelo PMDB. Mas avalia que esta é um aposta perigosa. Temer, com 93% de rejeição, é o político mais repudiado do Brasil.
Desculpas
Na entrevista, Doria também abrandou seu discurso de ódio.
— Sua reação pode ser diferente. Sou um conciliador. Sempre fui uma pessoa integradora. Eu respeito as pessoas. Embora eu seja firme na defesa das minhas posições, nunca desqualifiquei e xinguei — disse.
Ele, recentemente, vinha chamando a presidente deposta Dilma Rousseff de “anta”.
— Não foi a melhor posição. Até me desculpei em relação a isso. Não precisava me referir a ela dessa maneira. Reafirmo minhas desculpas — retrocede.
Mentiroso
Em outra reportagem, dessa vez no site de opiniões e notícias Diário do Centro do Mundo (DCM), revela que Doria inventou uma reunião com o primeiro-ministro francês, Edouard-Philippe. Nunca houve qualquer reunião entre os dois.
“Na rápida passagem de João Doria por Paris, a agenda oficial do prefeito anunciou que ele teria um almoço reservado no sábado com o primeiro-ministro francês, Édouard Philippe, que não estava na cidade. A informação sobre o encontro bilateral foi enviada aos jornalistas brasileiros antes de chegada de Doria na cidade e confirmada na noite de sexta-feira. Mas em nenhum momento constou da agenda oficial do líder francês”, diz o texto.
“A direção de comunicação do primeiro-ministro informou que Philippe já tinha agendado previamente uma viagem a cidade de La Havre, no interior da França; e que o encontro nem sequer chegou a ser programado. Segundo a assessoria de Doria, o que houve foi um desencontro”, acrescenta.
Resposta
Após as declarações de Dória, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, confirmou que deverá deixar o governo paulista na primeira semana de abril de 2018. Ele reafirma sua intenção de disputar a Presidência da República.
— Já fui candidato a presidente, em 2006. Estou bem mais preparado — afirmou.
Alckmin disse, ainda, que o Brasil tem “uma enorme possibilidade de retomar o crescimento”. Ele afirmou que não há hipótese de sair em janeiro, como se especulava.
Debandada
Principal referência intelectual do PSDB, o filósofo José Arthur Giannotti é mais um dos pilares da legenda que aponta o fim do partido.
— O PSDB morreu. Quer que eu fale de defuntos? O PSDB não é mais um partido. Funcionava como um partido quando as decisões eram tomadas em bons restaurantes e todos estavam de acordo. Agora isso não há mais. E não existe alguém como Lula para aglutinar todos — diz ele, que é também professor aposentado da USP.
Giannotti disse ainda, em entrevista ao mesmo diário conservador, que João Doria não pode nem ser considerado administrador.
— Ele é um bom comunicador, que se veste de gari e assim por diante. Até agora não vi ele provar ser um grande gestor — acrescentou.
Pior do que 64
Segundo o filósofo, a crise atual é mais grave do que a de 1964 e disse que o ex-presidente Lula tem chances de voltar ao poder.
— O Lula é um gênio político, é absolutamente extraordinário. Até que ponto ele foi tomado pela corrupção a Justiça vai dizer. As pesquisas mostram que o Lula tem chance, mas, se entrar, vai haver muito protesto — afirma.
Para Giannotti, a atual crise política “é pior do que a de 1964”.
— Lá tinha a merda dos militares. Eles mataram gente etc., mas botaram ordem. Agora nem isso nós temos. Não quero a volta dos milicos não (enfático). Mas hoje não temos processos de resolução da crise. Isso é um problema muito sério. Quem diz ter a solução para a crise? Ninguém — afirmou.
De saída
Em linha com a previsão de Giannotti, alguns integrantes do grupo do deputado estadual Rodrigo Cunha (PSDB-SE) começam a se movimentar para deixar o ninho tucano. O cunhado do deputado, o empresário Danilo Casado ja saiu da legenda e assumiu um cargo na direção local do Livres, antigo PSL.
Rodrigo já avisou que está incomodado com a atuação do partido nacionalmente , o apoio ao presidente Temer e os escândalos relativos ao senador Aécio Neves. Não será surpresa se o próprio Rodrigo sair do partido até fevereiro.