17/12/2016 às 08h56min - Atualizada em 17/12/2016 às 08h56min

Reprovação crescente de Temer reforça a tese da eleição indireta

A pesquisa sobre o prestígio de Temer, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), apontou ainda uma queda no percentual de indecisos

CORREIO DO BRASIL
Eduardo Cunha tem sido apontado como cúmplice de Temer em um esquema de propina com recursos desviados da Petrobras

A aprovação ao governo ficou em 13%, ante 14% em setembro, com variação dentro da margem de erro de 2 pontos percentuais do levantamento. Para 35% o governo Temer é regular, ante 34% no levantamento passado.

Polêmica

A pesquisa, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), apontou ainda uma queda no percentual de indecisos. O número passou para 6% os que não souberam ou não quiseram avaliar o governo neste mês, contra 12% em setembro.

“A redução da indecisão vem acompanhada da insatisfação com o governo”, disse a CNI em nota sobre o levantamento.

Além das turbulências no cenário político enfrentadas pelo governo, a recessão econômica aprofundou-se no terceiro trimestre deste ano. O Produto Interno Bruto (PIB) ficou em 0,8%, marcando o sétimo trimestre seguido de contração.

A pesquisa foi realizada entre 1º e 4 de dezembro, dias após a demissão do ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima. O peemedebista baiano foi demitido após uma polêmica envolvendo o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero. Temer foi citado como envolvido mas, até agora, não recebeu qualquer punição.

Ruim e péssimo

O levantamento também ocorreu depois de a empreiteira Odebrecht firmar acordo de delação premiada no âmbito da operação Lava Jato. Mas é anterior aos vazamentos de delações em que Temer e assessores próximos foram citados.

De acordo com a pesquisa, a queda de popularidade do governo é maior justamente entre a população com educação superior e renda familiar elevada. Era o segmento da sociedade brasileira que foi às ruas, vestido de verde e amarelo, pedir o impedimento da presidenta deposta Dilma Rousseff (PT).

“Entre as pessoas com renda familiar superior a cinco salários mínimos, o percentual dos que avaliam o governo como ruim ou péssimo cresceu. Chega a 16 pontos percentuais entre setembro e dezembro. Passou de 33% para 49%”, disse a CNI. A nota acrescenta que a avaliação positiva do governo também caiu entre os que têm educação superior, com recuo para 13% ante 18% em setembro.

Segundo a CNI, o levantamento ouviu 2.002 pessoas em 141 municípios.

Lava Jato

Algumas horas após a divulgação da pesquisa CNI/Ibope, um novo dado negativo soma-se à queda vertiginosa de Temer, junto à opinião pública. Um ex-executivo da Odebrecht disse em delação à força-tarefa da Operação Lava Jato que Michel Temer teria participado de um encontro para tratar de doações da empreiteira para campanha do PMDB em 2010. Em troca, Temer facilitaria a atuação da empresas em projetos da Petrobras. Os dados foram publicados na edição desta sexta-feira do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo.

Segundo o jornal, o delator Márcio Faria, ex-presidente da Odebrecht Engenharia Industrial, disse à Lava Jato que o encontro aconteceu no escritório de Temer. A reunião, em São Paulo, teria contado com a presença do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que está atualmente preso. Procurado pela reportagem, Temer confirmou, por meio de sua assessoria, que Cunha o apresentou a um empresário a seu escritório em 2010, que poderia ser Faria.

Os repórteres apuraram com três pessoas relacionadas à investigação que a contrapartida para as doações eleitorais ao PMDB, em 2010, “estaria ligada a benefícios para a Odebrecht em obras do chamado Projeto PAC SMS”. O Plano de Ação de Certificação em Segurança, Meio Ambiente e Saúde foi estruturado pela Petrobras.

Preso em Curitiba

“Ligado ao PMDB, João Henriques já afirmou que um contrato de quase US$ 1 bilhão foi fechado às vésperas do segundo turno das eleições de 2010 entre a área internacional da Petrobras, sobre a qual ele tinha influência, e a Odebrecht. Segundo o acordo, a empreiteira cuidaria, no âmbito do PAC SMS, da segurança ambiental da estatal em dez países”, acrescenta o texto.

Ainda segundo o diário, ”a Odebrecht Engenharia Industrial, presidida à época por Faria, era responsável pelos contratos de prestação de serviço do projeto para a área de negócios internacionais da Petrobras. Pessoas ligadas às investigações afirmaram ainda que Cunha mencionou a reunião em São Paulo quando elaborou 41 perguntas a Temer no mês passado, ao arrolar o presidente como sua testemunha de defesa na Lava Jato”.

“Preso em Curitiba sob acusação de envolvimento no esquema da Petrobras, o ex-presidente da Câmara questionou, na pergunta de número 34, se Temer tinha conhecimento de ‘alguma reunião sua (dele) com fornecedores da área internacional da Petrobras com vistas à doação de campanha para as eleições de 2010, no seu escritório político, juntamente com o sr. João Augusto Henriques”.

Temer admite

Procurado pela reportagem, Temer confirmou, por meio de sua assessoria, que participou de reunião em 2010 com a presença de Eduardo Cunha e de um empresário que, segundo ele, “pode ser” Márcio Faria, ex-executivo da Odebrecht, em seu escritório em São Paulo. Temer afirma ainda que o encontro, segundo ele organizado por Cunha, serviria para que o então deputado apresentasse um empresário “disposto a contribuir para campanhas do PMDB”.

Segundo ele, no encontro não se falou de valores e obras ou projetos nos quais a Odebrecht poderia atuar.

“Em 2010, o então deputado Eduardo Cunha levou um empresário ao escritório do presidente, que não se recorda do nome ou da empresa que este representava. Cunha alegou que o empresário estaria disposto a contribuir para campanhas do PMDB e que gostaria de conhecer o então candidato a vice-presidente. O presidente o recebeu por breve tempo”, diz a nota.


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