05/07/2017 às 14h22min - Atualizada em 05/07/2017 às 14h22min

Maia é cotado nos bastidores para substituir Temer na Presidência

Se Temer for condenado, Maia chamaria eleições indiretas e poderia concorrer ao cargo. Mantendo-se, assim, na Presidência da República, até Outubro de 2018.

CORREIO DO BRASIL
[Rodrigo Maia, eleito pela extrema direita, contou com os votos da esquerda]

A necessidade dos agentes econômicos, pressionados por uma crise sem precedentes, para aprovar a reforma da Previdência no curto prazo, mobiliza os deputados a optar pela saída mais rápida e eficaz para o afastamento do presidente de facto, Michel Temer. A queda de seus principais assessores, entre eles os ex-deputados Rodrigo Rocha Loures e Geddel Vieira Lima, ambos presos por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), teria apressado a articulação para que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), assuma a cadeira de Temer no Palácio do Planalto.

Rodrigo Maia (DEM-RJ), eleito pela extrema direita, contou com os votos da esquerda

Afastado do poder por 180 dias, como manda a Constituição Federal, Temer manteria o foro privilegiado e passaria, exclusivamente, a se defender das acusações de corrupção passiva, formação de quadrilha e obstrução da Justiça. Ele é investigado no STF e, com a aprovação da Câmara, passará à condição de réu no processo. Caso seja inocentado, voltaria ao cargo em Fevereiro do ano que vem. Uma vez condenado, Maia chamaria eleições indiretas e poderia concorrer ao cargo, mantendo-se na Presidência da República até Outubro de 2018.

Aliado de Maia

A escolha de Sergio Sveiter (PMDB-RJ) para a relatoria do processo, a ser votado na CCJ na semana que vem, segundo parlamentares da Comissão ouvidos pela reportagem do Correio do Brasil, em condição de anonimato, seria o primeiro passo nessa direção. Sveiter integra o grupo político próximo a Rodrigo Maia e já sinalizou que não pretende se “desmoralizar”.

— Eu jamais aceitaria uma missão dessas se eu tivesse algum comprometimento que pudesse tirar minha isenção para eu poder fazer o que eu penso. Sou advogado, eu vivo disso. Tem um quê de jurista nessa história. Eu não vou me desmoralizar — disse Zveiter, nesta manhã.

Sveiter se elegeu pelo PSD e migrou para o PMDB a convite do ex-prefeito Eduardo Paes. Ele iniciou sua carreira como secretário de Cesar Maia, pai de Rodrigo Maia. Aliados de Temer reagiram mal à sua escolha

— A situação se complicou muito — disse um daqueles parlamentares ouvidos pelo CdB.

Em Plenário

O relator da denúncia disse que vai se reunir com o presidente da comissão para avaliar o trâmite da denúncia. É a primeira vez que a Câmara se depara com a análise a respeito da autorização para que o STF julgue se receberá a acusação criminal contra o presidente. Segundo ele, há lacunas que precisam ser resolvidas sobre o rito a ser adotado.

O deputado indicou que a CCJ poderá adotar o mesmo rito do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff ano passado. Zveiter não quis antecipar se as cinco sessões regimentais previstas para a tramitação do processo é pouco ou muito para a sua análise.

O novo relator também não adiantou se aceitará pedidos feitos da oposição de produção de provas. Disse apenas que existe essa possibilidade; mas tal matéria será analisada no devido tempo. Destacou apenas que a última palavra, após a manifestação da CCJ, será do plenário da Câmara.

‘Peemedebista orgânico’

O relator é advogado de carreira e de uma família com forte atuação no Judiciário brasileiro. Ele presidiu a seccional fluminense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Seu irmão, Luiz Sveiter, é um dos advogados das Organizações Globo. A empresa que domina os meios de comunicação, no Brasil, coloca-se francamente favorável à queda de Temer. Traduz assim, em sua linha editorial, os interesses dos grandes grupos econômicos do país.

— O Temer está sendo descartado porque não terá força política para aprovar, em regime de urgência, a reforma da Previdência. A base aliada a ele ruiu — afirmou o parlamentar.

A oposição também elogiou a escolha de Sveiter. O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) destacou o fato de o relator não ser um “peemedebista orgânico”. No passado recente, ele votou pela cassação do mandato do hoje presidiário Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

— São vínculos menos fortes com o partido — afirmou Molon.

Base esvaziada

Diante da articulação em curso, a quantidade de parlamentares dispostos a dar segmento à denúncia contra Michel Temer tem aumentado nos últimos dias. A escolha de Zveiter para a relatoria da denúncia contra Temer, segundo uma enquete promovida na Câmara, mostra o aumento dos votos favoráveis ao prosseguimento do caso na CCJ. O placar atual é de 17 votos pela aceitação da denúncia e 5 pela rejeição. Outros 10 deputados ainda se dizem indecisos, enquanto que a maioria, 34 deputados preferiu não responder.

Entre os deputados procurados por pesquisadores desde a quarta-feira passada, até agora 142 anunciaram voto favorável à denúncia em plenário e 57 contra. Faltam, portanto, 200 votos à oposição para obter os 342 necessários para que Temer seja afastado do cargo.


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