“Vocês não são daqui?”. O questionamento, destinado a policiais militares, partiu de um motorista de um caminhão que levava 370 caixas de cigarros contrabandeados do Paraguai. O flagrante foi em 23 de maio deste ano em Bela Vista, exatamente uma semana depois da primeira fase da operação Oiketicus, que prendeu policiais militares por suspeita de facilitar, mediante pagamento, a circulação da “Máfia do Cigarro”.
Para o MP/MS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), que denunciou 28 policiais à Justiça Militar, a surpresa do contrabandista é uma demonstração sintomática de um mecanismo de corrupção envolvendo policiais militares.
No flagrante, o motorista disse que pegou o veículo carregado no Paraguai e levaria para Campo Grande. O roteiro da viagem incluía Caracol, Jardim, Nioaque e Sidrolândia.
O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), braço do Ministério Público, aponta que as cidades fazem parte da rota em que o contrabando era administrado por policiais.
“Essa situação, ocorrida poucos dias após da prisão dos comandantes e guarnição do esquema criminoso, revela bem como era sólida, estável e eficaz a formatação da corrupção orquestrada e, claramente, confirma as razões de inexistência de apreensões de cargas de contrabando de cigarro anteriormente”, aponta relatório da promotoria.
Conforme o Boletim de Ocorrência, o motorista ainda informou que já estava “tudo acertado”, mas se manteve em silêncio sobre o que seria o acerto.
Entre março de 2016 e 2018, o batalhão de Bela Vista foi comandado pelo major Oscar Leite Ribeiro, preso em 16 de maio deste na primeira fase da operação Oiketicus. Segundo o Ministério Público, Bela Vista praticamente não teve apreensão de cigarros, apesar de fazer fronteira com o Paraguai.
Na primeira fase, realizada em 16 de maio, foram cumpridos 20 mandados de prisão preventiva contra policiais, sendo três oficiais, e 45 mandados de busca e apreensão. O saldo total foi de 21 prisões porque um sargento acabou preso em flagrante.
A segunda etapa aconteceu no dia 23 de maio, com mandado de busca e apreensão na casa e escritório de servidor do TCE (Tribunal de Contas do Estado).
A terceira fase foi em 13 de junho, com mais oito prisões de policiais militares. Nome da operação, oiketicus é um inseto conhecido popularmente como “bicho cigarreiro”