Em tempos em que o respeito perde fácil espaço para intolerância quando o assunto é política, até um adesivo no carro gera a violência gratuita. Ao parar em um dos semáforos da Avenida Salgado Filho, na tarde desta quarta-feira (26) em Campo Grande, o ator Anderson Lima, de 39 anos, foi ameaçado pelo passageiro de um dos veículos da avenida, porque tinha colado em sua Kombi o adesivo do #EleNão.
A hashtag faz parte de campanha que tem movimentado as redes sociais e com a adesão de artistas por todo o mundo, contra a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) à presidência. O político de linha conservadora, ficou conhecido por posicionamentos considerados machistas, homofóbicos e em defesa da legalização da venda de armas e da ditadura, dentre outros temas polêmicos.
“Coloquei um cartaz #EleNão na minha Kombi. Hoje, por voltas das 17h na avenida Salgado Filho parou um carro ao meu lado, desceu o carona, arrancou o cartaz da Kombi, deu um soco no vidro e disse: ‘ele sim para limpar o Brasil de hippie nojento igual a você’, relatou Anderson em postagem no Facebook.
“Estou assustado. Muito assustado”, a frase que completa a publicação, resume o sentimento do ator também ao falar com a reportagem, mesmo horas após o ocorrido. “Eu fiquei com medo, sem reação. Não achei que ele fosse arrancar, talvez tentar arrumar o adesivo que pudesse estar descolando, mas não. Ele deu um soco no carro, me ameaçou e achei que ia vir para cima de mim”, conta.
Anderson relata que em seguida o homem entrou no carro e foi embora. Além do medo o ator conta que também ficou em choque com uma situação que segundo ele, diz muito sobre a visão dos eleitores no atual contexto político do pais.
“Limpar o Brasil. Ele usou a palavra limpar e não foi na forma literal, e do nada. Esse tipo de comportamento é perigoso e a historia já demonstrou que pensamentos intolerantes como estes são capazes de fazer. Quando a pessoa não consegue lidar com as diferentes opiniões”, observa.
O ator também acredita que o passageiro aleatório agiu com preconceito. Ele explica que foi chamado de hippie porque sua Kombi, atualmente, esta grafitada. Lima atua como palhaço, ganha a vida no teatro, ministra cursos e é um dos atores mais conhecidos no cenário artístico da Capital.
“O cara não me conhece, não sabe o que eu faço, mas para ele eu sou um problema e sem nem me conhecer. Já rodei o país levando arte e cultura em cantos aonde sequer político já chegou. Fiquei muito mal”, desabafa. Ele teme que o ocorrido hoje no trânsito, reflita o comportamento de alguns eleitores, também no próximo sábado (29) quando grupos a favor e contra a eleição do candidato, tem protestos marcados no Centro de Campo Grande.
“O que aconteceu comigo hoje pode representar algo muito maior. Sábado tem as manifestações e a gente não sabe o que pessoas que agem assim, são capazes de fazer. Eles não sabem mais dialogar ou respeitar a opinião do outro e são capazes de partir para violência”, conclui.